sábado, 30 de agosto de 2014

Namore uma rapariga que não lê, por Charles Warnke


      Saia com uma rapariga que não lê. Encontre-a cansada no meio de um miserável bar do Centro-Oeste. Encontre-a no meio do fumo, do suor de bêbados e das luzes multicoloridas de uma discoteca de luxo. Onde quer que a encontre, descubra-a sorrindo e assegure-se de que esse sorriso permaneça enquanto as pessoas que estão falando com ela, desviem o olhar. Cative-a com trivialidades pouco sentimentais, use as típicas frases de conquista e ria interiormente. Leve-a para fora quando os bares e as discotecas tenham dado por concluída a noitada; ignore o peso da fadiga. Beije-a debaixo da chuva e deixe que a ténue luz de um poste da rua os ilumine, assim como havia visto acontecer nos filmes. Pense sobre o pouco significado que isso teve. Leve-a para o seu apartamento e faça logo amor. Faça sexo.
      
      Deixe que o ansioso contrato que você inconsciente havia escrito evolua de uma forma lenta e desconfortável para um relacionamento. Encontre interesses e gostos em comum, como sushi e música folk. Construa um muro impenetrável em redor deles. Faça de um espaço comum um espaço sagrado e regresse a ele cada vez que o ar se torne pesado ou as noites longas. Fale-lhe de coisas sem importância. Pense pouco. Deixe um mês passar despercebido. Peça-lhe para se mudar e vir morar com você. Deixe-a decorar. Brigue por coisas insignificantes, como por exemplo, sobre a cortina do chuveiro que deve permanecer fechada para que não fique cheia daquele maldito mofo. Deixe que passe um ano sem que perceba. Comece a perceber.

      Conclua que, provavelmente, se deveria casar porque se não vai ter desperdiçado muito tempo da sua vida. Convide-a para jantar no quadragésimo quinto andar de um restaurante muito além das suas posses. Tenha a certeza de que a vista da cidade seja bonita. Timidamente, peça para o garçom trazer uma taça de champanhe com um modesto anel dentro. Quando ela perceber, proponha a ela com toda a sinceridade e entusiasmo que você tem. Não se preocupe se sentir que seu coração está a ponto de atravessar o seu peito e se não sentir nada, tão pouco dê importância. Se houver aplausos, deixe que terminem. Se ela chorar, sorria como se nunca estivesse estado tão feliz, e se não conseguir sentir isso, sorria da mesma maneira.

      Deixe os anos passarem sem que perceba. Consiga uma carreira, não um emprego. Compre uma casa. Tenha dois filhos bonitos. Tente criá-los bem. Falhe, frequentemente. Caia em uma entediante indiferença e logo em uma tristeza dessa mesma natureza. Tenha uma crise de meia-idade. Envelheça. Admire a sua falta de realização. Às vezes, sinta-se contente, mas principalmente vago e etéreo. Sinta-se durante as caminhadas como se nunca quisesse retornar ou que o vento o poderia levar consigo. Contraia uma doença terminal. Morra, mas só depois de se ter dado conta de que a garota que não lê jamais fez seu coração vibrar com uma paixão que tivera significado, que ninguém vai escrever a história de suas vidas, e que ela vai morrer também, arrependida de que nada proveio da sua capacidade de amar.
      
      Faça todas essas coisas, maldito seja, porque nada é pior do que uma rapariga que lê. Faça, eu digo, porque uma vida no purgatório é melhor do que uma vida no inferno. Faça, porque a rapariga que lê possui um vocabulário que pode descrever esse descontentamento de uma vida insatisfeita, um vocabulário que analisa a beleza inata do mundo e a converte em uma necessidade alcançável em vez de uma maravilha alienada. Uma rapariga que lê faz alarde de um vocabulário que pode identificar a capciosa e desalmada retórica de quem não pode amá-la e a inarticulada causada pelo desespero de quem a ama muito. Um vocabulário, maldito seja, que faz de mim um enganador vazio, um truque barato.

      Faça, porque a rapariga que lê, entende sintaxe. A literatura tem-lhe ensinado que os momentos de ternura chegam em intervalos esporádicos, mas reconhecíveis. Uma rapariga que lê sabe que a vida não é planar, ela sabe e exige, que o fluxo da vida venha em uma corrente de decepção. Uma rapariga que leu sobre as regras de sintaxe, conhece as pausas irregulares – a vacilação e a respiração – que acompanha a mentira. Sabe qual é a diferença entre um episódio de raiva isolado e os hábitos de alguém que se agarra com força a outrem cujo amargo cinismo continuará, sem razão e sem propósito, depois de ela ter empacotado as suas coisas e pronunciado um inseguro adeus. E ela decidiu que eu sou uma elipse e não um ponto, e, por isso, segue seu caminho. A sintaxe permitiu-lhe que conhecesse o ritmo e a cadência de uma vida bem vivida.

      Namore uma rapariga que não lê, porque uma rapariga que lê sabe a importância de uma trama. Ela pode traçar as demarcações de um prólogo e os cumes afiados de um clímax. Ela sente em sua pele. Uma rapariga que lê será paciente caso haja pausas e tentará acelerar o desfecho. Mas de todas as coisas, a rapariga que lê conhece o inevitável significado de um final. E sente-se cómoda com ele. Ela tem se despedido de milhares de heróis com apenas uma pontada de tristeza.

      Não namore uma rapariga que lê porque raparigas que lêem são contadoras de história. Você com Joyce, você com o Nabokov, você com Woolf. Você na biblioteca, na plataforma de metro, você em um café de esquina, você na janela do quarto. Você, que tem feito minha vida tão difícil. A rapariga que lê tornou-se uma espectadora de sua vida cheia de significado. Ela insiste que suas narrativas são ricas, ela quer ter o seu elenco colorido e a sua vida é escrita a negrito. Você, a rapariga que lê, faz-me querer ser tudo o que eu não sou. Mas eu sou fraco e vou deixá-la, porque você tem sonhado, propriamente, com alguém que é melhor do que eu. Você não vai aceitar a vida de que eu falei no início deste texto. Você vai aceitar nada menos que paixão, e perfeição, e uma vida digna de ser narrada. Por isso, vou deixá-la, rapariga que lê. Pegue o próximo comboio que a levará para o Sul e leve consigo o Hemingway.

      Eu te odeio. Eu realmente, realmente, realmente te odeio.

Tradução do original por Charles Warnke

Cruzei-me com este texto há algum tempo atrás, pela internet, e achei-o de tal modo brilhante que não descansei enquanto não o partilhei convosco. Esta foi a melhor tradução que encontrei, apesar de ainda ser um bocadinho "abrasileirada". O que acharam?


terça-feira, 5 de agosto de 2014

Diário Fotográfico: Lisboa

No castelo ponho o cotovelo
Em Alfama descanso o olhar
E assim desfaço o novelo
De azul e mar






À Ribeira encosto a cabeça
A almofada da cama do Tejo
Com lençóis bordados à pressa
Na cambraia de um beijo.






Lisboa menina e moça, menina
Da luz que os meus olhos vêem, tão pura
Teus seios sãos as colinas, varina
Pregão que me traz à porta ternura







Cidade a ponto-luz bordada
Toalha à beira-mar estendida
Lisboa menina e moça e amada 
Cidade amor da minha vida







No Terreiro eu passo por ti
Mas na Graça eu vejo-te nua
Quando um pombo te olha sorri
És mulher da rua.








E no bairro mais alto do sonho
Ponho o fado que sei inventar
A aguardente de vinho e medronho
Que me faz cantar.







Lisboa do amor deitada
Cidade por minhas mãos despida
Lisboa menina e moça e amada
Cidade mulher da minha vida.









Poema "Lisboa Menina e Moça"


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Anita em Busca do Melhor Bolo de Chocolate de Lisboa – Parte II “LANDEAU”

Há umas semanas, numa expedição pela baixa de Lisboa, fui parar à Rua das Flores (ali perto da praça dos bombeiros do Chiado, estão a ver?). Quando lá cheguei, lembrei-me que a minha tia tinha dito à minha mãe que me tinha transmitido a mim (só gente gulosa!) que havia ali uma casa com o melhor bolo de chocolate do mundo, elegido pela Time Out!

Lá a encontrei, uma casa pequenina, de nome Landeau, com um ambiente peculiar e confortável que me faz lembrar assim a sala de estar lá de casa. Perfeito para tardes frias e chuvosas de Inverno (fica a dica para quando ele vier!). Lá, pedi uma fatia do famoso bolo de chocolate que é daqueles húmidos por dentro. Custou 3,5 Euros (algo puxadote, na minha opinião) mas é bastante bom. 

Para além do bolo de chocolate, a casinha vende também algumas bebidas, como chocolate quente que, apesar de ser também famoso, não tive oportunidade de experimentar. Talvez noutra visita!


Existe outra filial da Landeau na LX Factory. Inicialmente este bolo de chocolate era vendido no Café Vertigo, no Chiado, mas tornou-se tão famoso, que abriram duas casas só em sua honra que aceitam encomendas que podem ser entregues em qualquer zona de Lisboa.


sábado, 22 de fevereiro de 2014

Diário Fotográfico: 2013

Algo que têm de saber sobre mim é que quando eu estou triste/chateada/desmotivada não escrevo. Não porque não consiga escrever, mas porque ao fazê-lo vêm à flor da pele todas as chatices, tristezas e outros sentimentos assim para o mauzinho que esteja a viver de momento. E eu gosto de recalcar bem essas cenas lá para o fundo dos fundos.

Outra coisa que quero contar sobre mim é que, como boa Taurina (de signo, claro) que sou, não gosto de mudanças. Se elas forem boas, que venham, claro! Mas mesmo com essas sou desconfiada. Então quando elas são más, torno-me assim um bocado para o insuportável e gosto de chafurdar dias a fio na minha própria espiral de miséria.

Ora, a minha vida, desde o Verão, levou com alguns abanões assim para o brusco. E eu, fiel a mim própria, reagi como reajo sempre: os meus anti-corpos psicológicos começaram todos a funcionar ao mesmo tempo e, no meio da confusão toda, acabei por negligenciar o blog.

Mas hoje estou aqui para remediar isso! Deixo-vos com algumas fotos tiradas desde o meu último post assim para você saberem, mais ou menos, o que é eu andei a fazer…


Alentejo





Algarve no Verão


Jardim Zoológico de Lisboa


Casamento da Tati e do Nuno





Londres no Natal


Primeiro Natal das minhas priminhas mais pequenas



Últimos dias de 2013

Hoje fico-me por aqui e prometo que o intervalo de tempo entre este e o próximo post não será tão grande como o anterior!